Em sua rotina de trabalho, Marion Costa da Silva se esforça para que o servidor da Prefeitura do Rio conquiste nota 10 no quesito evolução. Já quando está na Marquês de Sapucaí, a gerente do setor de Valorização e Capacitação do Servidor, ligado à Secretaria de Fazenda e Planejamento, precisa caprichar para que sua […]
Em sua rotina de trabalho, Marion Costa da Silva se esforça para que o servidor da Prefeitura do Rio conquiste nota 10 no quesito evolução. Já quando está na Marquês de Sapucaí, a gerente do setor de Valorização e Capacitação do Servidor, ligado à Secretaria de Fazenda e Planejamento, precisa caprichar para que sua escola de samba não perca pontos preciosos em conjunto e harmonia. Apaixonada por carnaval, este ano ela vai desfilar por seis agremiações no Sambódromo. Marion é a primeira entrevistada da série de reportagens que mostra a relação do servidor municipal com a maior festa popular do país.
A servidora se prepara para uma maratona: vai desfilar na Viradouro e Vila Isabel; ambas pelo Grupo Especial; além de Unidos de Bangu, Lins Imperial, Vigário Geral e Império Serrano, pela Série Ouro. O assustador é que as três últimas escolas vão atravessar a Sapucaí no mesmo dia, a quinta-feira de carnaval (21/4). Para enfrentar toda essa correria, Marion conta com a experiência que traz da vida profissional e pessoal. Originalmente, ela é professora de educação física da rede municipal de ensino, há quase 20 anos. Por outro lado, como atleta foi campeã brasileira e sul-americana de corrida de orientação, esporte em que se usa mapa e bússula para buscar pontos específicos em um terreno desconhecido. Ganha quem faz a tarefa no menor tempo.
– Meus amigos perguntam como tenho esse pique todo para o carnaval. Na minha vida toda fui professora de educação física, então não poderia ficar muito fora de forma, né? Além disso, com a corrida de orientação ganhei condicionamento físico para enfrentar os desfiles no Sambódromo.
Mas se engana quem pensa que Marion ache os desfiles na Sapucaí o ápice do carnaval. Ela surpreende ao dizer que sua maior alegria acontece no período que antecede os dias de folia.
– O melhor momento do carnaval é antes: ensaiar, conhecer pessoas, trocar experiências. Porque, quando chega a hora do desfile, é tudo bonito demais, só que muito rápido, passamos pela Avenida voando. Além disso, por ser uma ala coreografada, não podemos sair do personagem e curtir o desfile da forma que gostaríamos.
Em 2003, Marion passou no concurso e se tornou professora de educação física na Escola Municipal Coronel José Gomes Moreira, na Vila Kennedy, Zona Oeste da cidade. Já trabalhou também na Vila Olímpica Arthur da Távola, em Vila Isabel. Mas ela considera a passagem, durante sete anos, pela Escola Especial Municipal Ação Cristã Vicente Moretti, em Bangu, um dos períodos mais gratificantes de sua carreira.
– Quando você passa a dar aula para pessoa com deficiência, começa a entender a questão da diversidade, dos limites de cada um e o quanto você precisa ser flexível e fazer adaptações na vida, não só ali na aula. Quando se tem alunos com múltiplas deficiências é importante ter um olhar mais atento para observar os detalhes na hora de interagir com as crianças – conta a professora, que tem especialização em educação física inclusiva.
A experiência de tantos carnavais foi levada para a sala de aula. A servidora diz que procurava usar elementos das escolas de samba nos projetos pedagógicos que eram trabalhados com os alunos durante o ano.
– Costumava pegar o enredo de uma determinada escola de samba e fazer a relação com o tema que estava sendo estudado nas aulas. Quando a Beija-Flor trouxe o enredo sobre o romance Iracema, em 2017, o coreógrafo ensinou o jeito como o índio dança e eu trouxe isso para a aula. Na ocasião, estávamos trabalhando com as crianças a lei que trata de questões étnico-raciais de negros e índios. Isso facilita o aprendizado dos alunos com deficiência. Nossa cultura popular é rica demais.
A professora revela que sempre teve vontade de ser gestora pública e que já bateu na trave duas vezes na seleção de Líderes Cariocas, programa da Fundação João Goulart que identifica talentos dentro da Prefeitura do Rio, investe em sua formação e desenvolve as competências. Por isso, ficou feliz quando foi cedida, no início desse ano, para a Secretaria de Fazenda e Planejamento. Como gerente do setor de Valorização e Capacitação do Servidor, Marion pretende colocar em prática vários projetos.
– Tudo o que conquistei na vida foi dentro de um ambiente público. Decidi, então, retornar o que aprendi para a sociedade. Tenho um projeto, que será desenvolvido pela Educação, que é o #MapaeAção, que vai difundir o esporte da corrida de orientação nas escolas. Outra novidade é que ainda este ano vamos lançar a Olimpíada do Servidor, que terá quatro modalidades. Estou muito motivada!
No último carnaval antes da pandemia, em 2020, Marion experimentou duas sensações distintas: foi campeã na Viradouro e acabou rebaixada pela União da Ilha do Governador. Este ano, vestirá mais uma vez as cores da escola de Niterói numa ala coreografada, em que o componente tem que fazer passos e movimentos previamente ensaiados.
– Nossa ala tem 150 componentes e vem logo atrás do casal de mestre-sala e porta-bandeira. Eu acho que vamos impactar a torcida no Sambódromo. A coreografia tem funcionado bem nos ensaios que estamos fazendo em segredo.
Outra felicidade será desfilar na mesma escola que o filho. Estefan Eduardo tem 10 anos e já é ritmista das escolas mirins Nova Geração da Estácio de Sá e Coração Unidos do Ciep, onde toca repique. Este ano, ele foi convidado pela Unidos de Vila Isabel para representar Martinho da Vila durante a infância.
Com o enredo “Não há tristeza que possa suportar tanta alegria”, sobre o carnaval de 1919 realizado após a pandemia de gripe espanhola, a Unidos do Viradouro será a quinta escola de samba a entrar na Avenida, na próxima sexta-feira (22/4), primeiro dia de desfiles do Grupo Especial. Já a Vila Isabel trará o enredo “Canta, canta minha gente! A Vila é de Martinho”, fechando o sábado de carnaval (23/4).