Quem passou pela Secretaria Municipal de Infraestrutura no início deste ano e voltou recentemente, percebeu nitidamente a diferença no ambiente. A mobília antiga e com sinais de desgaste deu lugar a móveis aparentemente novos. O que as pessoas não sabem é que os “novos” móveis lustrosos são, na verdade, os mesmos que já ocupavam as salas. Com muita criatividade e usando a força de trabalho de servidores, foram reformados mais de 50 itens, entre mesas, armários, estantes e sofás, com um investimento de cerca de R$ 3.500 e uma economia para os cofres públicos em torno de R$ 200 mil.
Responsável por esse projeto, a arquiteta e subsecretária de Gestão da Infraestrutura, Carla Cabral, tem mais de 25 anos como servidora. Ela assumiu o cargo em janeiro e encontrou móveis antigos, alguns quebrados e fora de uso. Sem recursos, o jeito foi investir na sustentabilidade e no reaproveitamento.
– Quando chegamos encontramos um layout que não atendia à nova organização institucional. Ao mesmo tempo, o tesouro estava fechado e não tínhamos orçamento. Entrevistei todos os funcionários e descobri que entre nossos servidores tínhamos dois artífices em madeira que estavam em funções deslocadas. Ai surgiu a ideia de usar essa habilidade na recuperação do nosso mobiliário – contou Carla.
A subsecretária explica que o trabalho começou devagar e tímido, mas logo foi tomando corpo e consertando inclusive gavetas, com os funcionários satisfeitos com o reconhecimento.
– A nossa grande alegria é que agora esses dois funcionários estão felizes, se sentindo úteis e com importância na equipe – completou Carla.
Economizar, reformar e reciclar são as palavras de ordem para Gelson da Conceição Silva e Paulo Roberto do Nascimento. Com entusiasmo pelo trabalho e olho clínico, os dois separaram o que poderia ser reaproveitável. Para que a dupla dinâmica colocasse a mão na massa foi necessário adquirir materiais como verniz, pincéis e máquina de lixar.
- Me sinto muito prestigiado em andar pelos corredores, ser chamado pelo nome e ter meu trabalho reconhecido – disse Gelson, que trabalha na Prefeitura há 23 anos.
Na recepção do gabinete da secretaria de Infraestrutura, no 9º andar do Cass, as poltronas e o sofá também foram reformados. O couro do revestimento estava desgastado, assim como a espuma de preenchimento, sendo necessário realizar a troca total do estofado.
O valor de um conjunto de sofá com quatro lugares e duas poltronas em couro, igual ao que pode ser encontrado no hall da secretaria, é de aproximadamente R$ 8 mil. Mas o custo total da reforma saiu por apenas R$ 1.600 graças à parceria feita com um profissional de cenografia.
Durante a pandemia de Covid-19, um dos setores mais afetados foi o da cultura. Diversos profissionais que trabalham no campo das artes cênicas estão desempregados e sem ter como se manter financeiramente. Edilson Risoleta é um desses profissionais do ramo cultural e que foi indicado para fazer a reforma do estofado. Já a base das poltronas e do sofá, que são de madeira, foi restaurada pelos funcionários Gelson e Paulo Roberto. Assim, o custo total ficou mais barato do que a compra de novos móveis, respeitando a ideia central do projeto de reaproveitamento, sustentabilidade e valorização do trabalho humano.
A criatividade foi a receita do projeto de reformulação do mobiliário da Infraestrutura, como o caso da estante de livros da secretária Kátia Souza e a mesa de reuniões, que foram feitos sob medida, com materiais de desuso e guardados na Secretaria Municipal de Educação, que receberam um tratamento especial pelas mãos da “dupla dinâmica”. Os funcionários lixaram, envernizaram e deram os toques finais que faltavam para tudo parecer novinho em folha, recém-saído da loja.
Reconhecimento e valorização profissional
O projeto de restauração do mobiliário da Infraestrutura tem gerado bons frutos. Além de toda a economia financeira, o trabalho e a dedicação de Gelson e Paulo Roberto estão recebendo cada vez mais reconhecimento.
Paulo Roberto, que iniciou sua trajetória na prefeitura como agente operador de trânsito, contou que ao ver o prédio administrativo sendo erguido expressou a vontade de um dia trabalhar no local. E Gelson relembrou que nessa mesma época passava pela construção e era chamado de “psiu”, por não saberem seu nome. Hoje os dois se sentem muito felizes e orgulhosos por terem seus trabalhos reconhecidos pelos servidores.
– Eu me sinto visto nessa nova gestão – disse Gelson que trabalhava fazendo xerox, encadernação e outras atividades não condizentes com sua função. Ele entrou na prefeitura há 23 anos pela Comlurb, e depois foi para a antiga Secretaria de Obras, Habitação e Conservação no cargo de pintor. Com o passar do tempo, foi redirecionado para funções que não o agradavam. Nessa nova gestão, foi realocado e está muito feliz com o trabalho ao qual foi designado.
Os dois afirmam que o mobiliário da Infraestrutura, apesar de antigo, tem qualidade.
– Alguns móveis daqui têm mais de 20 anos, e depois da reforma vão durar mais 20 – afirma Gelson.
É preciso ter um olhar clínico para identificar os móveis que podem ser reaproveitados e essa característica Gelson e Paulo Roberto têm de sobra.
Desde o início do ano, já são mais de 50 itens restaurados . Mas o projeto idealizado pela subsecretária Carla Cabral e pela coordenadora de Logística, Renata Portocarrero, não para. A cada dia, novos móveis passam por reformas e a economia só aumenta.
– Criatividade também é economia – finaliza.