Era apenas mais um dia de trabalho do gari da Comlurb, Carlos Fonseca, de 34 anos. De repente, uma explosão e muita fumaça. Na mesma rua, uma equipe da Light fazia o reparo em um transformador de energia. Um dos técnicos acabara de ser atingido por uma descarga elétrica. O cenário, naquele momento, era dos piores. Carlos não pensou duas vezes e correu para oferecer ajuda. Começava ali, na rua Garibaldi, na Tijuca, um resgate tenso e delicado.
“Uma cena que eu nunca vou esquecer. Ele começou a gritar muito. Havia fogo na roupa dele e aí foi um corre-corre. O estado de saúde do técnico não era muito bom, mas ele estava vivo. A gente falava e ele não entendia. Estava muito desorientado, perguntava o que houve, e eu tentava acalmá-lo e tendo cuidado para não colocar as mãos nos ferimentos dele. A descarga elétrica acaba com a pessoa por fora e por dentro”, contou Carlos.
O gari que também é operador de resgate em rapel iniciou a ação de retirada da vítima com uma corda. Com a ajuda de dois colegas de trabalho do técnico atingido, o trio conseguiu descer aos poucos o jovem, identificado como Davi. Carlos estava apenas com uma luva simples, mas colocou em prática as técnicas que sabia.
“Acabei segurando o peso dele sozinho. Enquanto descíamos o jovem, infelizmente pendulei. Comecei a subir, mas consegui me agarrar ao poste, na parte de cima. Eu usava a luva de trabalho que acabou saindo por causa do atrito da corda. Ela começou a queimar minhas mãos e eu só tinha duas opções: soltava e deixava acontecer algo pior, ou sustentava e socorria”, relembra.
Já no solo, a vítima foi atendida por uma equipe do SAMU acionada pelo próprio gari antes do resgate. Davi, de 23 anos, foi levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, e depois transferido para uma unidade particular onde permanece internado. O estado de saúde do jovem é estável. O gari, além da queimadura nas mãos, sofreu cortes nas costas.
O acidente aconteceu em junho. A atitude de Carlos teve ampla repercussão no bairro. Muitas pessoas que acompanharam e tentaram ajudar no resgate compartilharam nas redes sociais o ato heroico. Mas o gari, formado em gestão ambiental, não se vê como herói.
“Eu nunca vou me ver como herói, vou ver sempre como cidadão e procuro fazer o bem a quem precisa. Se metade do mundo ajudar a outra metade, ninguém passaria por problemas”, conclui Carlos que, em breve, quer reencontrar Davi.
Veja outras fotos do gari e gestor ambiental Carlos Fonseca: