Entre os desafios que Flavio Teixeira encara no seu dia a dia está montar as licitações relacionadas a programas habitacionais para famílias de baixa renda. Já na hora de se divertir, o arquiteto da Prefeitura do Rio esquece contas e gráficos para se concentrar na produção das fantasias para que sua ala na Mocidade Independente de Padre Miguel brilhe na Sapucaí, fazendo a alegria de componentes e torcedores. O coordenador de projetos da Secretaria de Habitação é o terceiro entrevistado da série de reportagens sobre a relação entre o servidor municipal e o carnaval.
O arquiteto tem uma relação de amor com a Mocidade que já dura 35 anos. Desde criança, era levado pelo tio para festas e eventos na quadra da verde e branca de Padre Miguel.
– Morava em Realengo e estudava em Bangu, no meio do caminho fica Padre Miguel. Quando era criança, ficava maravilhado com os ensaios da Mocidade realizados dentro do Estádio de Moça Bonita, que reunia toda a comunidade. Era uma grande festa. Com 13 anos, comecei a desfilar na ala das crianças, junto com um amigo, e não parei mais – conta Flavio, explicando que agora os ensaios de rua acontecem ao lado da estação Guilherme da Silveira.
Presidente da ala Oba Oba, que vai desfilar este ano com 64 componentes, o arquiteto explica que seu trabalho na escola começa cerca de cinco meses antes do carnaval. Assim que os protótipos são aprovados, ele começa a produzir as fantasias que foram pensadas e desenhadas pelo carnavalesco.
– É sempre um sufoco danado, porque temos que comprar todo o material e contratar o ateliê que vai produzir as fantasias. Às vezes, uma peça de tecido não vem no mesmo tom imaginado pelo carnavalesco. Neste caso, ele precisa autorizar a troca para não termos problema na Avenida.
Por ser uma ala comercial, geralmente o componente não tem tanto compromisso com a escola quanto um integrante de ala da comunidade. Flavio, então, se cerca de vários artifícios para que nada saia fora da ordem do que foi planejado e a escola perca pontos preciosos na disputa pelo título.
– Há anos, em todo carnaval criamos um grupo de whatsapp em que tratamos de todos os assuntos relativos ao desfile, para que ninguém seja pego de surpresa. Cada componente tem que assinar um termo de compromisso e eu mando um manual de conduta, em que uma das regras é não poder chegar alcoolizado no Sambódromo. Se isso acontecer, a pessoa é cortada do desfile.
Apesar de ser Mocidade de carteirinha, Flavio já desfilou por várias escolas, entre as quais Paraíso do Tuiuti, Mangueira, Salgueiro, Ilha do Governador, Em Cima da Hora e Beija-Flor. Com tanta história para contar sobre carnaval, ele relembra alguns dos perrengues que já passou na Avenida.
– Em 2001, na Comissão de Frente da Paraíso do Tuiuti, a sirene começou a tocar, indicando que a escola tinha que iniciar o desfile. Mas ainda estávamos vestindo a roupa e alguns não estavam com a fantasia completa. Perdemos pontos e a escola acabou caindo para o Grupo de Acesso naquele ano. Já na Ilha, certa vez, o macacão que eu tinha que usar era muito pequeno. Com 1,87m de altura, passei um sufoco o desfile todo.
Arquiteto e urbanista formado pela UFRJ, com mestrado em Projetos Urbanos, pela Universidade Politécnica da Catalunha, em Barcelona, Flavio passou no concurso e entrou para a Prefeitura em 2013. Entre os projetos nos quais já trabalhou está o programa Morar Carioca nos morros Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme.
– A linha de montagem dentro um barracão tem tudo a ver com arquitetura. Muita gente não sabe, mas uma cabeça de fantasia, geralmente, tem ferro em sua estrutura. É nessa hora que entra o arquiteto, para pensar a melhor forma de fazer esse alicerce, para que depois venham as camadas de tecido ou qualquer outro material, que vão dar beleza e forma final a essa peça da fantasia.
A Mocidade Independente será a terceira escola a desfilar no próximo sábado (23/4), A escola de Padre Miguel vai trazer o enredo “Batuque ao Caçador”, uma exaltação ao orixá Oxóssi.
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