O dia 30 de abril de 2021 ficou marcado para sempre na memória da gari Mônica Matos. O que era para ser mais uma sexta-feira normal de trabalho se transformou em pesadelo quando ela, e mais três colegas, se viram no meio de um tiroteio. E piorou quando um deles acabou baleado gravemente. Foi quando Mônica, mesmo diante do medo com tudo o que estava acontecendo, atuou para salvar a vida de Roberto Carlos Marcolino. A publicação da história da gari socorrista, como ficou conhecida, faz parte de uma série de sete reportagens que serão divulgadas até domingo (13/3) em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, comemorado na terça-feira (8/3).
Era de manhã quando Mônica, Roberto, Vanessa e Wellington começavam a trabalhar no bairro de Piedade, na Zona Norte do Rio, onde os três estão lotados. De repente, começou uma troca de tiros quando bandidos tentaram praticar um assalto. A vítima, um policial militar de folga, reagiu. Vanessa se machucou ao cair no chão. Wellington levou um tiro no pé, e Roberto no abdome.
– Acho que foi o pior dia da minha vida. Você nunca imagina que algo desse tipo possa acontecer. Fui a única que não se machucou. E ter o controle emocional para ajudar quem precisava foi algo que eu nem sei como consegui fazer. Agi totalmente por instinto – contou a gari de 30 anos.
Durante o tiroteio, Mônica percebeu que a amiga Vanessa estava bem e que Wellington tinha sumido. Somente depois, ao reencontrá-lo no hospital, soube que um morador tinha ajudado o colega. O drama maior aconteceu com Roberto Carlos. Ao vê-lo sangrando no chão, ela ligou para sua gerência na Comlurb para pedir ajuda.
– Foi a primeira coisa que veio na minha cabeça. Estava em choque e tive de me segurar. Logo em seguida, me ligaram do Samu dizendo que já estavam a caminho. Mas que, enquanto isso, eu precisava fazer alguns procedimentos. Peguei uma toalha para pressionar o local do ferimento e fui orientada a conversar com ele o tempo todo para que não apagasse. Mantive o foco até a ambulância chegar, o que não demorou – contou Mônica.
Uma semana depois, no Dia das Mães, a gari participava de um almoço com os dois filhos, Alessandro, de 15 anos, e Carlos Eduardo, de 9, quando recebeu um telefonema de Marcolino. Ele havia acabado de receber alta do hospital.
– Foi emocionante. Eu passo mais tempo com meus colegas de trabalho do que com a minha família. Saber que ele estava bem, depois daquele grande susto, foi muito bom. Quando nos encontramos pessoalmente, dias depois, foi maravilhoso – afirmou a gari, emocionada ao relembrar do encontro.
Há oito anos trabalhando na Comlurb, Mônica disse que precisou de alguns dias em casa, ao lado dos filhos, antes de retornar ao trabalho. Ela contou com todo o suporte dos seus superiores e somente voltou a trabalhar na rua quando se sentiu recuperada do susto.
– Qualquer barulho eu já ficava assustada. Foi complicado nos primeiros dias, mas, aos poucos, retomei minha rotina. Gosto muito do meu trabalho, pois é gratificante poder contribuir com a limpeza da minha cidade – disse Mônica, que, atualmente, trabalha com uma ceifadeira (máquina de pequeno porte que corta o mato) no bairro da Piedade.
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