Semana da Mulher: Professora da rede municipal que já viajou o mundo usa sua experiência de vida para inspirar alunos

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Helzir Borges Lopes passou em dois concursos da rede municipal de ensino do Rio. No primeiro, em 1974, tornou-se professora do antigo primário e, cinco anos depois, participou de seleção interna para assumir turmas de educação física. Mas essa segunda experiência foi inusitada: ela havia acabado de dar à luz seu primeiro filho e fez a prova ainda no hospital, na presença de fiscais. Desistir, adiar sonhos, nunca foi opção para essa profissional multifacetada, também formada em letras e reabilitação, e que por mais de 20 anos atuou como juíza nacional e internacional da equipe de nado artístico.

Toda essa experiência de vida é compartilhada diariamente com seus alunos, não parou nem durante a pandemia, quando teve que adaptar mais de quatro décadas de ensino ao modo online. O prazer de estar em sala de aula é tanto que até convites para assumir cargos de gestão e direção foram recusados. E é com essa história de dedicação ao magistério que tem início nesta segunda-feira (7/3) uma série de sete reportagens em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Até domingo (13/3) serão apresentadas profissionais do município que, como Helzir, fazem a cidade acontecer.

 

Helzir está há 48 anos em sala de aula – Marcos de Paula / Prefeitura do Rio

 

Aos 68 anos, Hezir já é aposentada pela primeira matrícula e diz que não tem previsão para deixar o ensino. Ainda quer dar aula para muitas turmas do primeiro segmento, nas escolas municipais Maestro Francisco Braga e Padre José Anchieta, na Ilha do Governador, bairro onde mora.

 

– Eu gosto de estar em sala de aula, com eles. Eu ensino, aprendo, me divirto. Faço muitos projetos com meus alunos, mostras de dança, teatro. É uma oportunidade extra para essas crianças – diz a professora, que sempre gostou de aprender coisas novas.

 

Ser juíza do nado artístico, por exemplo, foi sugestão de uma amiga da família. Já formada em educação física pela UFRJ, Helzir teve que fazer cursos no Brasil e no exterior. Um esforço recompensado pela experiência adquirida em dezenas de viagens para atuar em competições como o pré-olímpico de Pequim (2008) e a Olimpíada de Londres (2016). Nos Jogos da Rio 2016 cuidou da organização da área de competição, era ela que botava ordem no local das provas, verificava se tudo estava no lugar, a posição de atletas e de profissionais que acompanhavam a disputa. Também participou de pan-americanos, sul americanos e mundiais em países como China e Estados Unidos.

 

– É muito importante aumentar o currículo, ter mais experiência. Falo sobre isso para meus alunos, conto sobre as diferentes culturas que conheci, a organização dos atletas do Japão, por exemplo. Falo que usar máscara não foi novidade, na China as pessoas já tinham esse hábito nas ruas. Viajei meio mundo pelo esporte, sem gastar dinheiro. Isso é um incentivo para a garotada, falo para eles lutarem pelos sonhos e nunca desistirem. Na escola tem aula de inglês, digo que é importante aproveitar essas oportunidades, de aprender – conta Helzir.

 

Nos últimos dois anos, a professora também precisou reaprender a dar aula, dessa vez online. Ela fala com entusiasmo dos projetos que desenvolvia para manter os alunos diante da tela. Criava atividades ligadas ao esporte, pesquisava vídeos curtos para servir de base e deixar o conteúdo mais dinâmico, passava tarefas escritas e também práticas, sempre atenta às limitações impostas pelo ensino remoto. Esse ano, voltou plenamente ao ensino presencial e, aos poucos, está retomando o trabalho em quadra.

 

Durante a quarentena, um dos temas de seus projetos foi a mulher. Sugeriu que pesquisassem esportistas de destaque e, conforme a atividade delas, ensinava a fazer tabela de basquete com balde, bolas de plástico, e estimulava a prática de jogos que ajudam na coordenação motora.

 

– Eu trabalho para mostrar que qualquer um pode conseguir o que quiser, desde que não desista. Passo isso principalmente para as meninas, digo que elas podem ser o que quiserem. Mulher pode tudo e tem que ser aquilo que tem vontade.

 

Helzir não pensa em aposentadoria – Marcos de Paula / Prefeitura do Rio

 

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